• A Rima

  • Sobrancelhas

  • De Joelhos

  • Tudo Muito Rápido

  • Porque Você Não Estava Aqui

  • Ilusão

  • Tempo Nublado

  • Apoteose

  • O Idiota Eletrônico

  • Preguiça

  • Melindrada

  • A Próxima Vez

  • Chove Chuva

  • Admirável Gado Novo

  • Ficha Técnica

Como num grito, uma interjeição: AGORA ! Um disco exagerado em tudo. Número de faixas (17!), informações no encarte, estilos, arranjos, tudo! Resolvemos experimentar todas as possibilidades neste 5o. disco. Gravamos versões de Benjor e Zé Ramalho (Chove Chuva e Admirável Gado Novo), flertamos ainda mais com a MPB em Ilusão e Mais Preguiça; com a música dance, em Tempo Nublado e Melindrada, e com o estilo tradicional do Biquini, em Sobrancelhas. Gravado no final de 93 e início de 94 numa clínica abandonada, o Biquini fugiu dos estúdios e, sem limitação de tempo, viajou nos arranjos. Apesar do sucesso de Chove Chuva e da boa repercussão de faixas como “Sobrancelhas” e “Porque Voce Não Estava Aqui”, Agora é considerado como disco de transição do grupo. Um disco que não correspondeu às nossas expectativas, já que acabou sendo pouco conhecido. Chegou a ser relançado em uma série de nome Autêntico com capa alterada mas com encarte original. A música “A Rima” só constou das primeiras ediçòes do disco, pois a família de Carlos Drummond de Andrade, que havia liberado o uso da poema das sete faces, voltou atras, forçando a retirada da canção.
Agora não aconteceu no passado. Talvez o futuro seja Agora! Só o tempo dirá.

Biquini Cavadão é :Álvaro Birita – bateria eletrônica e percussões|
Bruno Gouveia – voz, pseudo-gaita e efeitos
Carlos Coelho – guitarras, violões e vocal
Miguel Flores da Cunha – teclados, samplers, vocais
Sheik – baixo e vocais
Direção Artística: Jorge Davidson
Produzido por Carlos Beni
Gravado por Walter Costa (gravações digitais) e Marcus Adriano, ‘o Sarapa’ (gravações analógicas)
Mixado por Walter Costa exceto ‘Mais Preguiça’, ‘Chove Chuva’ e ‘Admirável Gado Novo’ mixada por Marcus Adriano e ‘Melindrada’, mixada por Guilherme Reis

Assistentes de Gravação – Marcius Alessandro (Casa da Barra), Aurelio Kaufmann, Carlão (Megas), Guilherme Calichio (Nas Nuvens) e Jorge ‘Picapau’ Brum (Discover)

Programação e Operação de sequencers e samplers – Walter Costa e Miguel Flores da Cunha (I.E. inc.)
Edições Digitais – Guilherme ReisGravado na Casa da Barra (gravações digitais) e no Estúdio Mega (gravações de bases analógicas), no verão de 94. Mixado no Estúdio Discover e Nas NuvensParticipações especiais:
Ivana Domenico – vocal em O Idiota Eletrônico
Ernani Pires Ferreira – locução da Ficha Técnica
Anjo – percussão em ‘Apoteose’
Marcus Suzano – percussão em ‘Ilusão’ e ‘Mais Preguiça’
Ronaldo Lima Filho – percussão em ‘Chove Chuva’
Marcius Alessandro – vocais em ‘Sobrancelhas’
Carlos Beni – percussão em ‘Preguiça’
Walter Costa – percussão eletrônica em ‘O Idiota Eletrônico’
Alex Levy – locuções de Entrefaixas

O Biquini Cavadão na estrada é
Valdir Rodrigues: road manager
Dênio Costa: Engenheiro de Som (P.A.)
Tavinho Albuquerque: Engenheiro de som (palco)
Alexandre Corrêa: Técnico de Luz
Márcio Villanova: Técnico de baixo e bateria
Mário Cavalcante: Técnico de guitarra
Március Alessandro: Técnico de teclados
Roadies: Pizza, Carlinhos Gordo, Fernando, Pará e Luis CampeloFotos de Pedro Lobo
Design de Ricardo Leite e Patrícia Chueke (Pos Imagem Design)
Coordenação Gráfica Carlos NunesObrigado, Merci, Thanks, Grazzie, Spassiba, Dekujj, Todali, Livala, Kossonom sépa, dank U, arigatô:
Mário Mico, Marcius Lolita, e a toda equipe/família B.C., Marcos Adriano, Leoni, Ana Gouveia, Marco Magalhães, Ivana Domenico, Sérgio ‘Matusalém’ Vasconcelos, Mauro e Aurélio (Mega), Guilherme Reis (Discover) e Renato Manfredini Jr.Agradecimentos Especialíssimos:
José Carlos Vilela e Otávio Canedo pelo gentil e gracioso empréstimo da casa. Walter Costa, por ter suportado com excepcional bom humor a ‘Via Crucis Biquiniana’

A MATEMÁTICA DA GRAVAÇÃO:TRABALHO – 984 horas de trabalho foram necessárias para realizar este disco/ 765 execuções de cada música (no mínimo) / 124 vezes Walter esqueceu de acionar o auto-imput do BRC/ 316 berros chamando ‘Lolitaaaa!/ 30 minutos foram suficientes para compor e arranjar ‘Tudo Muito Rápido’/ 18 horas foram gastar para mixar ‘O Idiota Eletrônico’.PREGUIÇA – o sarcófago foi frequentado por diversas múmias de sono profundo: 58 horas dormidas pelo faraó Sheik-Amom/ 52 horas pelo grande Ramsés-Coelho / 43 horas pelo poderoso Tutan-MigLAZER – 608 fotos de 559 mulheres decoraram as paredes da gravação/ 7 tubos de cola grandes foram gastos para colar as fotos/ 83 partidas de Shangai ™ foram jogadas / 19000 pontos tornaram Alvaro Birita campeão universal de Lunatic Fringe©CONSUMO – 5Kg de biscoito recheado de goiaba / 6,2 Kg de salgadinho de batata / 93 pacotes de chicletes com 5 unidades / 597 litros de refrigerante / 34 litros de batida de côco / 3258 cigarros foram fumados únicamente por Carlos Beni (O Biquini adverte: fumar é prejudicial à saude) / 3 Litros de uisque foram consumidos por Sheikem uma noite (Sheik adverte: o álcool é prejudicial à memória)4 aniversários foram celebrados durante as gravaçõesAdministração Municipal – Principais metrópolese seus respectivos preferitos no SimCity™: Zonópolis – Sheik / Nova Ituiutaba -Bruno / Bentown – Beni / Romulo Vivacqua – Coelho / Tecladópolis – Miguel / Tunecolândia – Walter

Agora
por Carlos Lemos
Há algo de errado com o Biquini Cavadão. Os rapazes (Bruno, Miguel, Alvaro, Sheik e Coelho) são superprofissionais, ensaiam diariamente, trabalham muito, quase sem folgas, já gravaram cinco discos, em 1993 fizeram 153 shows em todo o país, de norte a sul, de leste a oeste, nas grandes capitais e cidades, nas brenhas do interior. São noites mal dormidas, cada noite num hotel.

0 senso profissional lhes dá uma vida sacrificada, com longas ausências de famílias, amigos, amores queridos, ansiosos, ciumentos. Saudade.

Ainda assim, continuam a ser tratados pelos veículos de comunicação como jovens amadores, filhinhos de papai rico, que tocam para se divertir.

Há dez anos na estrada, com a mesma formação, trabalhando sem cessar. E nesses dez anos ainda e sempre aparecem, nas inúmeras listas de fim de ano como a revelação do ano. É verdade que já foram eleitos o melhor conjunto. Mas o normal é aparecerem numa ofensiva lista de Revelação. Não importam sucessos como “Tédio”, “Timidez”, “No Mundo da Lua”, “Bem Vindo ao Mundo Adulto”, “Zé Ninguém”, “Impossível”, “Domingo” e o super sucesso “Vento Ventania”, a melhor e mais tocada música do ano.

Talvez porque não tenham alma de vedete, porque não se promovam, porque não usam e, por isso, não aparecem em escândalos de álcool ou drogas.

São sérios e profissionais os rapazes do Bíquini Cavadão. A seriedade começa por seu democrático exasperante, exaustivo e perfeccionista método de criação. Nada no Biquíni Cavadão é autoria de alguém, criação de um único. Tudo é coletivo, resultado de reuniões e mais reuniões dia a fora e noite adentro, sempre à procura do melhor, do mais criativo, do mais perfeito. Vitórias e derrotas são sempre de todos. Letra, música, arranjos e mixagem.

Discussão sem parar. Brigas? Quase nunca. 0 objetivo é encontrar o melhor. Se possível a perfeição. Este método de trabalho dá responsabilidade, dá densidade, melhora o produto, aperfeiçoa a obra. Gera uma qualidade exemplar, músicas de sucesso na boca do povo, mais shows, viagens, mais noites mal dormidas. Saudades.

0 cansativo mas eficiente método de criação, o isolamento, as viagens, os anos de estrada geraram a maturidade. Quase se poderia dizer, maturidade do isolamento. Dolorosa, eficiente e pouco reconhecida maturidade e profissionalização.

Tudo isso aparece, se reflete, fica mais claro agora. Em Agora, o novo disco do Biquini Cavadão. A partir deste instante, a partir de Agora, ninguém pode desconhecer a qualidade do som do Biquíni. Os jovens amadores de há dez anos são profissionais aplicados, competentes, de extraordinária qualidade. Ficaram para trás os quase imberbes estudantes de física, medicina, engenharia. Restaram – e graças que restaram – os adultos músicos profissionais que geram um “som” (como se diz hoje em dia) de primeira.

Maestria nas performances individuais, deslumbramento no conjunto. E só escutar para concluir. Como evoluíram a vibrante guitarra do Coelho, o contido baixo do Sheik, a perfeita bateria do Álvaro, o erudito teclado do Miguel e a voz do Bruno, que passou de um inseguro vocalista iniciante a um seguro cantor que brilha mais do que nunca em Agora. E como deixar de reconhecer a fina poesia deste novo disco que se coroa na frase antológica que aparece em “Ilusão”: ” … Não adianta distrair no tempo, como o vento a sua face pousa no meu pensamento” . Reconhecer, sim, a mudança da temática das letras, que deixou para trás a perplexidade da adolescência e mergulhou na saudade adulta do amor perdido ou distante na melhor tradição da poesia da música brasileira. Os adultos rapazes ( ainda rapazes) começaram sua carreira cantando, sobretudo, o espanto dos jovens adolescentes diante do mundo. Através do tempo cantaram, em suas letras os problemas sociais brasileiros, as injustiças de uma distribuição de renda criminosa, denunciaram os políticos que nos decepcionam, homenagearam os mais fracos e humildes.

Alguns desses temas aparecem em Agora e vão aparecer no futuro pois os problemas não cessam. Mas é o amor, a dor no amor perdido, do amor distante, distância que a estrada impõe, que o profissional ismo exige, o tema dominante de Agora.

Em Agora, nada do dançante fácil, do refrãozinho alegre, da frase sem profundidade. Neste disco, o ritmo de “Porque Você Não Estava Aqui-e alegre e saltitante, mas a letra é uma profunda dor de amor.

Agora é agora. 0 retrato do momento do Biquini Cavadão, em seu infindável processo criativo. Democrático e sofrido processo criativo.

Em Agora estão citados Drumond, com sua rima sem solução, em “A Rima” e Zuzuca, com seu ganzê e seu ganzá, em “Apoteose”.

Estão no disco a denúncia irritada de “0 Idiota Eletrônico”, mas está também a renúncia coletiva do conjunto em favor do bonito e suave brilho de Álvaro e Bruno em ” A Próxima Vez”.

É um disco onde o Biquíni Cavadão mostra todo o seu talento e sua potencialidade, pelo até Agora.

Dos 18 aos 28 anos os rapazes cresceram, melhoraram. Brilharam e continuam com aquele ar (falso?) de que não ligam para o sucesso.

Carios Lemos
Junho 94