Reduzidos a um quarteto, decidimos gravar nosso primeiro disco não autoral. Um projeto iniciado em março através da constatação de que muitos adolescentes que curtem o nosso trabalho sequer sabiam falar quando nós surgimos na década de 80, junto com tantas outras bandas. Aprenderam a gostar de nós por tios, irmãos mais velhos ou pelos próprios pais antes de descobrir sucessos mais recentes, como “Janaína”.
Pela primeira vez gravamos fora de nosso habitat natural, o Rio de Janeiro. Fomos para São Paulo por 3 semanas para gravar e mixar o disco. Estávamos acostumados a gravar levando o triplo do tempo. Iisto nos forçou a focarmos o trabalho, buscarmos muita objetividade. Os arranjos ficaram mais simples, porém não menos elaborados. Tadeu Patola, o produtor, tratou de mergulhar nos detalhes nas horas certas evitando ‘rosqueios de lâmpada’, como ele dizia.
O disco trouxe convidados muito especiais, todos pertencentes à uma nova geração que em muito contribuiu dando uma visão bem particular para músicas que ouviram quando eram novos. Foi assim com MC Rajja (do Rajja e Cabong), Suave (do Jigaboo), Erica Martins (Penélope) e Egypsio (Tihuana). Egresso do Los Hermanos, Patrtick Laplan assumiu os baixos no disco e ainda tivemos Paulo Corccione, baixista do mutante Sergio Dias, em outras músicas.
Este é um disco para você ouvir bem alto. O disco mais ‘rock’ que fizemos até hoje. Divirta-se!
Uma produção UNIVERSAL MUSIC dirigida por Tadeu Patola
Direção Artística Max Pierre Gerência Artística Ricardo Moreira Coordenação Executiva Adrian Philippe (Pipo)
Gravado e Mixado em junho e julho de 2001 no MIDAS STUDIOS (SP)
Gravado por Paulo Anhaia, Lampadinha,Renato Patriarca e Tadeu Patola
Mixado por Paulo Anhaia e Tadeu Patola Assistentes Renato Patriarca e Alexandre Guedes
Edição Digital Paulo Anhaia, Lampadinha, Renato Patriarca e Tadeu Patola
Assistente de Coordenação Celso Costa
Masterizado no HBM por Rodrigo Castanho
Fotos Christian Gaul Fotos no estúdio de gravação Anselmo Gomes Projeto Gráfico Pós Imagem Design Direção de Arte Ricardo Leite e Rafael AyresDesigners Assistentes Nako e Daniel P. Neves Coordenação Gráfiica Gê Alves Pinto Styling Alice Souza Make up Daniel Rêgio Santos Assistente de ProduçãoLavoisier Cannazarro Agradecimentos: Metally Bijoux,Lunetterie, Swains, Hugo Boss, Forum, Triton, Yes Brazil, Foch, Complexo B, Vambax, Brechô De Salto Alto e Como Manda o Figurino
BIQUINI CAVADÃO é:
BRUNO GOUVEIA – Vocais CARLOS COELHO – Guitarras e violões MIGUEL FLORES – Teclados ALVARO BIRITA -Bateria
Participações Especiais EGIPSIO – Voz na faixa 10 ÉRIKA MARTINS – Voz na faixa 6 SUAVE – Rap na faixa 3 – RENATO RUSSO (In memorian) – Voz na faixa 3. Músicos participantes: MC RAJJA – Toast na faixa 12 PATRICK LAPLAN – Baixo nas faixas 1, 3, 4, 5, 6, 9 , 10 e 12. TADEU PATOLA – Guitarras e violões adicionais nas faixas 1, 2, 3, 4, 7, 8, 9, 11, 12 e 13 PAULO CORCIONE – Baixo nas faixas 2, 7, 8, 11 e 13.- Metais nas faixas 1, 6 e 11 : WALMER CARVALHO – Arranjos e Sax-tenor MARIO LUCIO MARQUES – Sax-Tenor WAGNER DE SOUSA– Arranjos e Trompete NAHOR GOMES – Trompete EVANIR “BABY” PINHEIRO – Arranjos e Trombone SIDNEI BROGANI – Trombone – Cordas na faixa 4 : ED CORTES – Arranjos BETINA STEGMAN e LUIS AMATO – Violinos MARCELO JAFFE – Viola ROBERT SUETHOLZ – Violoncelo
Shows PLANETSHOW
Fone (11) 5561-1101
Instrumentos e acessórios Music Mall
Agradecimentos Marcelo Castello Branco, Max Pierre, Ricardo Moreira, Cosme, Edson Coelho e a todos da Universal (é sempre bom voltar pra casa!), Pipo, Tadeu Patola, Patrick Laplan, Érika Martins e Penélope, Suave, Egipsio e Tihuana, Rajja, Walmer,Wagner, Baby, Paulo Corccioni, Humberto Barros, Bruno Fortunato, Erica Imazawa, Neto, Celso, Renatinho,Lampadinha, Alex, Paulinho, Galera do Midas, Walter Costa e galera do Gorila Mix, seu Renato, Legião, Raphael Borges, Anselmo,Fernanda Kfuri, Angela Castro, Noel Rosa, Jingle Bells Produções e a todos os autores das canções que gravamos, bem como todasas bandas. Não foi possível gravar todas as músicas que queríamos, mas este disco é dedicado a todos que na década de 80 firmaram o nome do rock nacional. Música se faz com a cabeça. Música se faz com atitude. Música se faz com o coração. Música não se faz com a bunda! Abraços do Biquini Cavadão
80
O Biquini Cavadão lança a primeira revisão do rock dos anos 80 por uma banda da mesma geração. Projetos parecidos por outros artistas abarcaram um quadro mais amplo do pop rock brasileiro. Aqui se cobre o período entre 1985 e 1989, com 13 faixas gravadas por seus artistas originais no auge do Rock Brasil. Não houve a preocupação de gravar hits, embora alguns estejam presentes, mas de privilegiar belas canções. Assim é 80, o novo álbum da banda.
A idéia deste tributo nasceu em 1999, quando o Biquini realizou o projeto À vontade no Ballroom, no Rio. “A cada quarta-feira tocávamos com convidados especiais. Foram encontros históricos com Herbert, Frejat, Benjor, Kid Abelha, Zé Ramalho e muitos outros. Em cada show tocávamos um clássico de nossos convidados, e graças aos resultados obtidos no palco, nos animamos a, um dia, fazer um disco não-autoral. No Rock In Rio III, convidamos nosso grande amigo Marcelo Hayenna, do Uns e Outros, para cantar seu sucesso Carta Aos Missionários conosco. Nos camarins conversávamos sobre a importância das bandas que surgiram naquela época e hoje se tornaram referência para grupos mais novos. Finalmente, veio a decisão: com as rádios infestadas de popozões e bunda music, consideramos a idéia de mostrar em CD uma época em que as canções primavam pelas letras e pela atitude,” explicou Bruno Gouveia.
O disco tem vários convidados. Renato Russo, a referência maior da Geração 80, aparece dividindo o vocal de Múmias com Bruno, A Penélope Érica Martins participa de Educação Sentimental II e Egipsio, do Tihuana, ataca nos vocais de Hoje. Raps e toasts de Suave (do grupo Jigaboo) e MC Rajja (do Rajja e Cabong) também figuram nas faixas. Essencialmente, o Biquini Cavadão buscou convidar uma geração que cresceu ouvindo o rock da década de 80 para contribuir com cada música gravada.
Os Anos 80/ O Disco 80
A explosão aconteceu em 1982 com Você Não Soube Me Amar, da Blitz,iniciando a fase eufórica de conquista de espaço da Geração 80, inicialmente com as bandas do Rio. Nos três anos seguintes foram chegando os grupos de São Paulo, Rio Grande do Sul, Brasília e Bahia. O Rock in Rio, em janeiro de 85, foi determinante para a profissionalização desta geração. No festival eles conheceram o big business e, a partir daí, passaram a buscar shows elaborados com cenários e som condizente com as exigências técnicas do rock, além de um maior apuro na produção dos discos. Foi o ano do surgimento do Biquini, que lançou Tédio envolvido em mistério, dizia-se que era formado por integrantes de outras bandas, como o guitarrista (e padrinho) Herbert Vianna e até se mencionou este repórter como vocalista do grupo. Logo conheceu-se a sua identidade: Bruno Gouveia (vocal), Carlos Coelho (guitarra), Alvaro Birita (bateria) Miguel Flores da Cunha (teclados) e Sheik (baixo). Este último desertou no ano passado, substituído nos shows por Patrick Laplan, que também gravou neste novo CD.
Daí começou a história do Biquini e deste disco. Do núcleo do Rio eles escolheram A Novidade, música do LP Selvagem? (1986), dos Paralamas do Sucesso, que promoveu uma revolução na época incorporando sonoridades caribenhas e africanas. Do Barão Vermelho, o blues Quem Me Olha Só, do LP Rock’n’Geral (1987), já sem Cazuza, numa parceria Frejat/Arnaldo Antunes, transformado em um reggae com direito a toast de MC Rajja, do grupo Rajja e Cabong. O pop do Kid Abelha e os Abóboras Selvagens causava polêmica na época. Odiado pela crítica e amado pelo público, eles deram um importante virada sonora no segundo trabalho, Educação Sentimental (1985), que tinha duas versões no disco e o Biquini pinçou aqui a segunda, num arranjo mais Motown e reforçado por sopros, além da voz de Erica Martins, do grupo Penélope. Uma das cabeças mais brilhantes e polêmicas do núcleo carioca, Mr. Lobão, conheceu o sucesso ao lado dos Ronaldos em 1984 com o LP Ronaldo Foi Pra Guerra, que teve como maior sucesso a balada Me Chama, selecionada para esta revisão, alternando violão e uma massa sonora de guitarras. De seu primeiro LP, Cidades em Torrente (1986), o Biquini escolheu Múmias, que fala sobre a condição humana, colocando sobre ela a experiência dos 15 anos de estrada desde aquele lançamento, num primoroso trabalho de teclados, o vocal de Renato, transcrito via computador, e o toque atual com um rap de Suave, do grupo Jigaboo, de São Paulo.
Os paulistas entraram em cena a partir de 1984 e um dos discos mais fortes saiu em 1986, Cabeça Dinossauro, dos Titãs, eleito pelo Jornal do Brasil como o disco da década. Era um manifesto que demolia as instituições e dele o Biquini regravou Estado Violência, com um tema dolorosamente atual, numa interpretação veemente com guitarras uivantes de Coelho. Uma grande explosão de 1985 foi o RPM, que teve seu impecável disco de estréia Revoluções Por Minuto tocado praticamente inteiro nas rádios. Uma das menos executadas foi a instigante Juvenilia, sobre a situação política do Brasil ainda sob os efeitos da ditadura, que teve seu arranjo original praticamente preservado pelo Biquini.
Uma geração punk floresceu em Brasília no final dos anos 70 tendo como ponta de lança o lendário Aborto Elétrico, de Renato Russo e dos irmãos Fê e Flávio Lemos (hoje no Capital Inicial). No começo dos 80, a cena se rearrumou e várias bandas desceram para o Sul. A mais conhecida foi a Legião Urbana, que lançou dois LPs muito bem sucedidos e, em 1987, resolveu esvaziar o baú do passado, gravando um disco com músicas que remetiam ao Aborto Elétrico e duas novas, uma delas a impecável balada Angra dos Reis, calcada em teclados envolventes e retraduzida aqui com ênfase nas guitarras de Coelho. O Finis Africae estreou em 1987 com o LP homônimo, que tinha na balada Armadilha uma das canções mais bonitas da década, resgatada em grande estilo pelo Biquini, com belas intervenções do teclado de Miguel e um bandolim, que fecha a canção.
Em janeiro de 1986, saiu a coletânea Rock Grande do Sul, apresentando os grupos gaúchos que vinham se incorporar ao mainstream. Os Engenheiros do Hawaii logo se credenciaram para gravar um CD que saiu no mesmo ano e que teve como um de seus sucessos Toda Forma de Poder, uma crítica aos que mandam na sociedade, também dolorosamente atual, que o Biquini acelerou num ska reforçado por fraseados de sopros. O Nenhum de Nós seguia uma linha mais lírica do que os Engenheiros, como fica evidente em Camila Camila, uma angustiada canção de amor muito bem recriada pelo Biquini num arranjo mais vigoroso que o original. Um pulo a 1989 nos leva ao grupo Uns e Outros, de Marcelo Hayenna, que estourou com Carta aos Missionários, um rock recriado aqui com uma veemência ainda maior do que a do original.
Representante solitário do rock baiano na Geração 80, o Camisa de Vênus negava tudo que seu estado representa musicalmente, fazendo um punk rock com letras irônicas como a de Hoje, recriada pelo Biquini com muitas guitarras, a participação do fã confesso Egipsio, do grupo Tihuana, e o rolo compressor de Álvaro destruindo as peles da bateria.
Muita gente boa ficou de fora, como é inevitável quando se pretende fazer revisão em apenas um CD, como explica Bruno Gouveia: “Em uma primeira listagem chegamos facilmente a 25 artistas. Só nos restou então fazer uma ‘filtragem conceitual’: abrimos mão dos cantores solo, por mais importantes que fossem. Depois excluímos qualquer banda que tivesse lançado recentemente um disco ao vivo revisando sua própria obra. Outro dado importante é que ficamos mais à vontade em gravar músicas que conhecemos na época em que nossa banda já estava formada. O próximo passo foi escolher de cada artista a música que seria regravada. Aí valeu nosso gosto, nossa pesquisa e finalmente o melhor arranjo conseguido por nós.”
Produzido por Tadeu Patola, este tributo marca o início de uma nova etapa na carreira do Biquini. É seu oitavo disco, o primeiro pela Universal, com uma nova postura sonora que certamente se refletirá em seu trabalho futuro.
Jamari França
(com o copy providencial de Bruno Gouveia)
setembro/2001